Endoscopia Veterinária: Abordagem à rinorréia, por onde começar?

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O corrimento nasal é uma das apresentações mais frequentes na clínica veterinária e chegar à sua causa pode ser desafiador.
Mas abordar de forma estruturada este problema é essencial já que o nariz é uma estrutura de suma importância para cães e gatos, e que muitas vezes é desvalorizado.


Por norma, o corrimento nasal está associado a doenças da cavidade nasal e da nasofaringe.
Quando avaliamos casos de corrimento nasal sabemos que é importante definir idade, espécie, raça do paciente, se este tem acesso ao exterior ou não, se houve alterações no seu meio ambiente, se foram introduzidos novos animais, há quanto tempo apresenta o corrimento e se há outros sintomas associados.

Contudo existem outros detalhes que nos podem orientar na nossa abordagem:

1- O corrimento é unilateral ou bilateral?

O corrimento unilateral é mais frequente em casos de corpo estranho, neoplasias, fungos e fistulas oro-nasais unilaterais.


Já o corrimento bilateral está mais associado a rinites inflamatórias, virais, bacterianas, ou em casos de neoplasias já com elevada invasão local ou com localização caudal.

Infecções fungicas que já apresentam destruição do septo nasal também podem levar a corrimento bilateral. No caso das infecções fungicas é também importante ressaltar que tendem a provocar descoloração da mucosa nasal.

2- Qual é o tipo de corrimento?

  • Corrimento nasal seroso: é um corrimento transparente acelular e está normalmente associado a doenças virais ou inflamatórias em fase inicial;
  • Corrimento nasal mucoso: é um corrimento branco, com baixa celularidade e normalmente associado a inflamações crónicas;
  • Corrimento nasal purulento: é um corrimento cujo a coloração varia entre o amarelo e o verde, com presença significativa de neutrófilos e normalmente está associado a infecções bacterianas. É importante referir que por norma essas infecções bacterianas são secundárias, não são a causa primária do problema daí a necessidade de interpretar com cautela os resultados das culturas bacterianas nasais;
  • Corrimento nasal sanguinolento: implica a presença de sangue e tende a estar associado a trauma, neoplasias, corpo estranho e fungos. Ele aparece combinado com os outros corrimentos citados previamente;
  • Epistáxis– quando temos hemorragia ativa temos sempre que pôr nos nossos diagnósticos diferenciais doenças infecciosas que levem a vaculite (como leishmaniose), desordens de coagulação e trauma.
Mas por onde começar a abordar?

Depois de uma boa anamnese e um bom exame físico devemos definir se a patologia está realmente limitada às vias respiratórias superiores ou se há envolvimento das inferiores, assim como definir se poderá haver alguma outra doença envolvida.

Em casos crónicos (mais de dez dias) ou graves é importante fazer uma abordagem mais completa:

  • Hemograma
  • Bioquímicas gerais
  • Pesquisa de hemoparasitas
  • Em caso de epistaxis provas de coagulação
  • Radiografias da cavidade nasal e do toráx (pelo menos duas projeções)

Caso se trate de pacientes felinos também é muito importante descartar todas as causas infecciosas:

  • FIV
  • FELV
  • Herpesvirus
  • Calicivirus
  • Clamidia
  • Micoplasma
  • Bordatella bronquiceptica
    Devemos pesquisa-las mesmo em pacientes vacinados.
E a rinoscopia quando deve ser realizada?

Sempre que não se tenha identificado a causa primária, que o corrimento não responda ao tratamento empírico, que haja suspeita de tumor, infecção fungica ou corpo estranho devemos propor ao proprietário realizar uma rinoscopia.

A tomografia e a ressonância magnética também podem ser indicados neste tipo de casos, é importante que esses exames sejam realizados previamente à rinoscopia, já que a toma de biopsias provoca hemorragia e lesão nos cornetos que podem prejudicar a interpretação da tomografia e da ressonância.

A rinoscopia apresenta como vantagem a visualização direta da mucosa nasal e nos permite direcionar com maior precisão as nossas biopsias.

Em caso de corpo estranho podemos remove-lo imediatamente e em caso de infecção fungica podemos lavar o local e aplicar logo tratamento tópico.

Para mais informações sobre abordagem às doenças respiratórias consulte as guidelines do ISCAID

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