Endoscopia Veterinária: Gatos, como chegar da endoscopia à IBD??
Este é um dos temas em que ainda não há um consenso propriamente dito, pois ainda há muito por descobrir sobre a IBD.
Sabemos que é uma doença com uma componente multifactorial e que o seu diagnóstico passa pela exclusão de outros diagnósticos diferenciais.
Mas durante a investigação as questões que se colocam em relação à endoscopia são várias:
- Quando avançar com a endoscopia?
- Qual a importância de avançar com a endoscopia no momento certo?
- Qual fazer: endoscopia digestiva alta? endoscopia digestiva baixa? as duas?
Apesar da sua etiologia não estar totalmente definida sabemos que é multifatorial: envolve a resposta imunitária, a dieta, as bactérias intestinais e outros fatores ambientais.
Pode afetar gatos em qualquer idade mas apresenta maior prevalência em gatos adultos e geriátricos. A sintomatologia também é variada: vómitos, diarreia, perda de peso, prostração.
Como falamos inicialmente IBD é um diagnóstico de exclusão e essa parte é importante ter em mente antes avançar para a endoscopia.
A endoscopia permite-nos obter amostras para histopatologia de forma minimamente invasiva, biopsias essas que por norma são diagnosticas. As biopsias permitem caracterizar o tipo de infiltrado, a gravidade do mesmo, assim como diferenciar IBD de outras patologias.
Mas para tirarmos maior proveito da endoscopia é importante garantir alguns passos prévios, já que a sintomatologia da IBD é bastante generalista.
Assim antes de avançar para a endoscopia digestiva devemos realizar:
- Hemograma;
- Painel bioquimico geral, que inclua avaliação da função renal, hepática, albumina e proteínas totais;
- T4, deve sempre fazer parte da investigação em gatos adultos e principalmente em gatos geriátricos;
- B12 é muito importante, níveis baixos pode implicar uma diminuição da sua absorção;
- Ecografia abdominal. Avaliar se há perda de diferenciação de camadas no estômago e no intestino assim como avaliar se há aumento de espessura de alguma das camadas;
- Pesquisa de parasitas fecais, também importante já que podemos ter inflamação da mucosa intestinal associada ao parasitismo;
- Fazer trial alimentar, pelo menos um mês com ração hidrolisada ou se são pacientes que só fazem dieta caseira mudar a fonte de carbo e proteína (por exemplo para batata doce e pato). Este passo é ainda mais importante em pacientes juvenis, podemos ter que fazer trial com mais do que uma dieta antes de avançarmos para a endoscopia.
Sabemos que esta investigação pode se tornar extensa e dispendiosa, contudo ela é fundamental para darmos uma resposta adequada e mesmo para chegar ao diagnóstico final.
Se os exames descritos não justificarem a sintomatologia ou apontarem para a necessidade de endoscopia entra o momento de decidir se fazer endoscopia digestiva alta ou baixa.
A escolha poderá depender muito da sintomatologia que o paciente apresenta se só vomito, se só diarreia, se ambos, ou ainda se tem perda de peso.
Idealmente para uma boa investigação devemos realizar tanto a endoscopia digestiva alta como a endoscopia digestiva baixa, isto porque muitos dos casos apenas apresentam alterações no ileo. É importante avaliar e colher amostras do ileo antes de declarar que o paciente NÃO tem IBD apenas com base nas histopatologias do duodeno e do estômago.
As biopsias dos diferentes segmentos devem SEMPRE ser feitas, mesmo quando não há alterações macroscopicas.
Outra questão que se coloca é se as amostras obtidas por endoscopia são suficientes para o diagnostico de IBD.
Por norma sim, contudo não podemos esquecer que não é um exame diagnostico único, devemos sempre cruzar a informação obtida com a dos outros exames. Por exemplo: estudos mostram que consoante o valor de B12 pode haver maior tendência para IBD ou linfoma. O mesmo se passa com outros valores.
A investigação prévia é de extrema importancia nesta fase. Principalmente quando pretendemos diferenciar IBD de linfoma. Por certo iremos aborda esse tema com detalhe emem outro post.
Para resumir:
- Devemos avançar para endoscopia depois de realizarmos uma investigação previa, garantir que temos a desparasitação em dia e que foi feito um trial alimentar antes;
- Avançar com a endoscopia antes dessa investigação pode comprometer o nosso resultado e corremos o risco de sujeitar o paciente a uma exame inadequado ou mesmo desnecessário;
- Sempre que possível realizar tanto endoscopia digestiva alta como baixa, já que muitas das alterações apenas estão presentes no ileo.
- Dosear a B12 é importante tanto quando há suspeita de IBD como de linfoma.
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Sou mãe, veterinária, vivo ali mais a sul, apaixonada pelo mar, capoeira e chocolates.
Pretendo partilhar um pouco do que aprendo todos os dias neste mundo da endoscopia veterinária.